Preocupados com a saúde e em manter um bom condicionamento físico e mental, toda semana o casal Fernando Mendes e Ariana Costa sai de casa para realizar atividade física ao ar livre. A atividade preferida deles é caminhada e corridas leves, e eles estão certíssimos. Movimentar o corpo é essencial para aumentar a qualidade e expectativa de vida, além de evitar doenças e melhorar a disposição para realização das tarefas diárias.
Mas todo o esforço que eles fazem semanalmente pode não estar valendo de nada ou até mesmo estar causando resultados na saúde contrários aos que eles desejam. Isso porque o local preferido deles para fazer as corridas e caminhadas é a BR-116, em Euclides da Cunha, e é aí que começam os problemas. O grande fluxo de veículos oferece, de cara, dois enormes riscos: o de acidentes e o de inalação do monóxido de carbono, um gás sem cheiro e sem cor, mas extremamente tóxico, emitido através das descargas dos veículos.
“Inalado repetidas vezes como produto de descarga de automóveis, caminhões e outros poluidores da nossa atmosfera, o monóxido de carbono pode causar alterações vasculares que podem levar a um AVC (derrame cerebral) e infarto agudo do miocárdio (ataque cardíaco). Ele também eleva a produção de ácido clorídrico pelo estômago, causando gastrite e úlceras”, alerta o Dr. Jadson Passos, pneumologista, especialista e autoridade no assunto. Ele recebeu Retratos e Fatos para um bate-papo na Clínica Multivascinar, em Euclides da Cunha, onde atende pacientes locais e de toda a região.
Mas, ao contrário do que você pode estar pensando agora, Fernando e Ariana sabem de todos os perigos. E o principal motivo que não os tira da pista também é de muitas outras pessoas com as quais conversamos: a possibilidade de caminhar ou correr em linha reta. “Pelo fato de ser em linha reta, a gente tem mais noção do tempo, de ida e volta, do percurso, e dando voltas e voltas, cansa, aí a gente vai embora antes de terminar o percurso”, afirma Ariana. Fernando ainda acrescenta outro fator determinante para eles. “Virou uma tradição fazer a caminhada aqui, onde a gente encontra amigos. Tem outros lugares que a gente poderia fazer de uma forma mais segura, mas por conta dessa tradição, a gente opta em fazer aqui”, confessa.
Como dissemos, nosso casal não está só, muito pelo contrário, o número de pessoas que se exercita às margens da “rodovia da morte” é muito grande, e bastante preocupante. “Eu dou prioridade aqui porque eu não gosto de caminhar girando, eu acho muito chato, ninguém gosta, eu prefiro caminhar em linha reta, mas estou ciente dos riscos, é uma falta de opção, mas é muito perigoso, mesmo”, admite Duarte Silva, que encontramos no local acompanhando seus netos Pedro Lucas e Clara na pedalada.
Nós conversamos com o professor de educação física e fisiologista do exercício, Daniel Fontes, que afirmou que caminhar ou correr em linha reta ou em círculos não faz diferença nenhuma em termos de resultado para a saúde. “O que mais importa é você controlar a intensidade do exercício, leve, moderada ou intensa, que pode ser mais apurada através de um monitor cardíaco ou pela própria percepção de esforço, ou seja, independente do que você faça, dança, natação, caminhada, corrida, ginástica sentado, o mais importante é o controle da intensidade, que a partir daí dará um gasto calórico, a queima do combustível certo”, explica.
Nós perguntamos também sobre a importância de realizar atividade física em locais adequados. “O mais importante é pensar em algo que seja menos estressante. Uma das funções do exercício é diminuir o estresse, então se você vai realizar uma atividade em um ambiente altamente estressor, essa função do exercício será altamente diminuída. Então, buscar lugares com menos barulho, menos fumaça ajuda bastante nesse sentido”, orienta.
E se essa matéria te preocupou até aqui, espera só até você ler isso. Um fumante de cigarros tem sérios problemas de saúde porque “seu organismo apresenta níveis sérios de monóxido de carbônico, mais elevados que os não-tabagistas”, acrescenta Dr. Jadson. Segundo ele, mesmo em pequena concentração, o gás, chamado por muitos de “assassino invisível”, pode causar alterações estruturais nos nossos vasos, que são fatores predisponentes para lesões graves em órgãos essenciais como cérebro, coração e estômago.
“Umas das medidas mais simples seria cessar o tabagismo e evitar exercícios em áreas com grandes concentrações de automóveis, e optar por praças arborizadas e parques. Isso também reduziria o risco de lesões articulares, visto que a pavimentação em acostamentos de rodovias e algumas vias urbanas muitas vezes é irregular, e evitaria também a bem a incidência de acidentes por atropelamentos”, conclui Dr. Jadson Passos.