Gustavo Augusto: A busca pelo “corpo perfeito”: o que está além da saúde?

Essa busca incessante por uma perfeição corporal que não existe pode trazer sérias consequências à saúde pelo aumento de lesões musculares, consumo indiscriminado de anabolizantes, suplementos alimentares e dietas muito restritivas que não conseguem suprir as necessidades do organismo, levando muitas vezes à deficiência de nutrientes.
Terapias alternativas parecem ser tentadoras, ainda mais no momento atual que vivemos pela busca desenfreada pelo corpo “ideal”, entretanto os efeitos negativos à saúde devem ser levados em consideração, além dos resultados dessas alternativas serem temporários.

Nos últimos anos, a busca por um “corpo perfeito” ou dentro dos padrões aceitáveis na atual sociedade, tem se tornado uma obsessão por algumas pessoas. Tal comportamento pode acarretar diversas consequências negativas para nossa saúde.

Sabemos da importância da alimentação saudável e da prática de atividade física para uma vida mais saudável, tanto para saúde física quanto para saúde mental. No entanto, o exagero e a obsessão em se manter tais práticas podem levar a problemas de saúde como, por exemplo, transtornos alimentares (bulimia e anorexia), a vigorexia, bem como distúrbios psicológicos, depressão, estresse e problemas de autoestima.

O transtorno dismórfico muscular, conhecido como vigorexia, é a incompatibilidade entre o corpo de uma pessoa e a imagem que ela tem de si própria. Por mais musculoso que esteja, o indivíduo sempre vai se achar fraco e franzino, e então inicia uma busca obcecada pela perfeição física. Assim como a anorexia – quando a pessoa se vê sempre acima do peso e a busca pela magreza passa dos limites saudáveis – a vigorexia é motivada pelos padrões de beleza que, de forma excessiva, cultuam o corpo sarado.

Essa busca incessante por uma perfeição corporal que não existe pode trazer sérias consequências à saúde pelo aumento de lesões musculares, consumo indiscriminado de anabolizantes, suplementos alimentares e dietas muito restritivas que não conseguem suprir as necessidades do organismo, levando muitas vezes à deficiência de nutrientes. Questões como saúde ou qualidade de vida deixam de ser o foco e a pessoa não mede esforços para alcançar o objetivo.

Muitas pessoas acabam procurando “terapias alternativas” para atingirem um resultado mais rápido e sem muito esforço, como o uso de diuréticos, hormônios como o GH (hormônio do crescimento), medicamentos (inibidores de apetite, laxantes) e até mesmo os anabolizantes, somados a dietas muito restritivas. Tudo isso pode levar a uma perda de peso não saudável e muitas vezes temporária, além de efeitos adversos à saúde. Isso acontece, muitas vezes, sem prescrição médica, nem acompanhamento especializado de possíveis efeitos colaterais. Vale salientar que algumas dessas estratégias são usadas na prática clínica e não com o objetivo de uso estético.

O uso de diuréticos causa uma maior perda de água e eletrólitos pelo corpo, o que leva a uma diminuição do peso corporal, porém não diminui a gordura corporal, além de poder causar deficiência de alguns minerais. O uso de hormônio como o GH pode favorecer o surgimento de diabetes mellitus. Os medicamentos inibidores de apetite têm vários efeitos colaterais como aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Já o uso de medicações com efeito laxante, pode prejudicar as células intestinais e consequentemente diminuir a absorção dos nutrientes, como as vitaminas e os minerais. Os anabolizantes podem trazer consequências como hepatite, esteatose hepática (gordura no fígado), cirrose, câncer, insuficiência renal, doenças cardiovasculares, infertilidade dentre outras.

Ademais, temos os implantes hormonais a base de gestrinona ou outros hormônios androgênicos, os quais são de aplicação subcutânea e liberam o hormônio lentamente no organismo. Os chamados “chips da beleza” promovem efeitos desejados por muitos (diminuição de massa gorda, aumento de massa muscular e da libido), porém geram efeitos colaterais importantes semelhantes aos dos anabolizantes. Recentemente a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) emitiu um posicionamento onde rechaça veementemente o seu uso como anabolizante para fins estéticos e de aumento de desempenho físico, e conclama as autoridades regulatórias para aumentar a fiscalização do uso inadequado destes implantes hormonais no nosso país.

Vale ressaltar que, para se obter resultados consistentes, sustentáveis e de maneira saudável, seja para o emagrecimento e/ou hipertrofia muscular, e até mesmo para melhora do desempenho esportivo, é necessário ajustar os 3 pilares básicos, quais sejam: alimentação, treinamento físico e sono. Devemos ter uma alimentação saudável ajustada ao nosso objetivo, um treinamento intenso para gerar estímulo adequado para o corpo e um sono de qualidade, uma vez que é durante o sono que o corpo descansa e regenera as energias, além de produzir uma série de mediadores químicos. Somado aos 3 pilares, temos o estado psicológico de cada indivíduo que é de extrema importância para se alcançar os objetivos.

Terapias alternativas parecem ser tentadoras, ainda mais no momento atual que vivemos pela busca desenfreada pelo corpo “ideal”, entretanto os efeitos negativos à saúde devem ser levados em consideração, além dos resultados dessas alternativas serem temporários.

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