Estude, enquanto eles dormem. Trabalhe, enquanto eles se divertem. Lute, enquanto eles descansam. Depois viva, o que eles sempre sonharam. (Autor desconhecido)
Quem nunca ouviu falar em alguma dessas frases? Todavia, muitos são os que de fato não analisam o que está por trás do significado de cada uma delas. Aliás, em se tratando de viver em um sistema político econômico hegemônico requer não apenas sofrer as adversidades provenientes do processo de trabalho e suas facetas sociais, mas acima de tudo enxergar o que Ricardo Antunes afirma: “só consegue se expandir destruindo…”.
No mundo contemporâneo estamos vivendo um colapso social com índices cada vez mais alto do desemprego. Inúmeras são as fontes de pesquisas evidenciando os desalentados que formam a massa global carentes de vagas em suas mais diversas áreas de formação: médicos, engenheiros, advogados, entre tantos outros e estes por sua vez são denominados pelo professor e escritor Ricardo Antunes, autor do Livro: “O Privilégio da Servidão”, de escravos da era digital resultado do que ele nos apresenta do processo de trabalho moderno conhecido como uberização (convido você leitor a ler mais sobre a temática). Interessante atinar a discussão feita pelo renomado sociólogo, pois nos faz notar o quanto somos vítimas do sistema opressor e o quanto nos tornamos escravos do cansaço mental alienados também pela mídia e o consumo desenfreado, pela cultura do ter e mais ainda pelos incentivos tóxicos, porém, mascarados de muitas frases motivacionais iguais a essas escritas no início desse texto.
Para além dessas motivações, cada um de nós desde muito cedo é incentivado a se sobressair no mercado de trabalho. Metas, resultados, otimização, concorrência, são palavras mágicas para a busca do crescimento capitalista que usa da mais valia e da própria alienação como já dizia Karl Marx resultando na expropriação da mão de obra do trabalhador, enriquecendo alguns e tornando cada vez mais pobres muitos outros. Essa é uma discussão muito importante, porque ao observamos a teoria a vemos difundida na atualidade com toda a força. Chamo atenção para a crise econômica pandêmica que vivenciamos e ainda estamos sentindo na pele, ou seja, a uberização muda o processo de trabalho e atinge as mais diversas formações acadêmicas e claro, ainda mais que isso, o estágio pós pandemia nos assusta em sua forma mais real quando vivenciamos as consequências do agravamento e adoecimento físico e principalmente mental que atinge milhares de pessoas em todo o mundo.
Abordando o tema trabalho, não poderia deixar de falar acerca da Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional. Essa patologia, estudada e muito bem apresentada pela escritora Anne Helen Petersen através do livro: “Não aguento mais não aguentar mais”, nos deixa pensando profundamente como os processos de trabalhos estão sendo transformados. Em leitura feita nas redes sociais e entre elas a página do instagran quebrandootabu foi abordado tal temática. A questão é: mais que uma teoria, o adoecimento está posto a olhos nus.
Da geração dos anos 80 pra cá e a pandemia reforçou esta herança, vemos muitos sujeitos tendo que reduzir a vida a uma inumerável lista de tarefas, ou seja, se pensarmos e tecermos análise crítica da crise econômica, social, das expressões do sistema capitalista e das teorias de Ricardo Antunes e Marx, no final veremos que temos um adoecimento descomunal e a evidencia cada vez maior de que não somente nossos direitos trabalhistas estão sendo aniquilados com o tempo, mas estamos trabalhando apenas para sobreviver. Estamos nos afundando em uma crise sem precedentes que assola a saúde mental e física e evidentemente perdemos para o sistema o valor da nossa mão de obra. A síndrome acomete a todos e não escolhe suas vítimas. Em um mundo cuja tecnologia nos torna escravos, necessário se faz pensar sobre as novas formas de atuação profissional e os processos laborais. Se de um lado temos facilidades para desenvolvermos ações pontuais cada vez mais presente nas empresas e instituições, por outro, a luta para sobreviver é desenfreada, resultando em uma corrida contra o tempo e no descaso profissional, pois a medida que avança a tecnologia, na contramão do sistema temos a perda de direitos trabalhistas, as exigências patronais que não mudaram e a concorrência da sobreposição do destaque.
Pergunto para vocês: qual o valor da sua luta enquanto eles dormem? Qual o valor de seu trabalho enquanto eles se divertem? A nossa sociedade não mudará enquanto não tivermos consciência de classe e nos deixarmos seduzir pela cultura do consumismo feitos sujeitos passivos de um sistema que para crescer destrói, destrói nossa mente e esgota nosso físico. Como diz Antunes: “tem algo estranho nesse processo”. Pensemos mais sobre isso ou não viveremos o que sonhamos.
Cátia Souza é assistente social, especialista em Gestão de Saúde Pública, MBA em Políticas Públicas Municipais, especialista em Educação – Gestão de Tutoria/EAD e especialista em Gestão Organizacional de Pessoas.
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