Sejamos objetivos: ACM Neto está perdido, sem rumo, politicamente falando. É inacreditável como uma pessoa consegue transitar com tanta facilidade entre o céu e o abismo tão rapidamente: de melhor prefeito da história de Salvador (aprovado por mais de 75% da população) e quase governador eleito da Bahia a um mero comentarista nas redes sociais. É vergonha alheia que falam?
Em 2022, na pré-campanha ao governo do estado, Neto andou por toda a Bahia identificando o potencial de cada região e projetando um modelo de desenvolvimento que o valorizasse. Aquilo me pareceu inteligente (e era), e foi isso que, inclusive, me convenceu a votar nele. Passada a eleição, ACM Neto caiu fora das estradas e se recolheu, seu maior erro.
Hoje, o que se vê são dois ACM Netos completamente diferentes. Saímos de um visionário, modernista da pré-campanha, para um apático, pequeno e totalmente sem estratégia pós eleição. O “menino” que rodava trecho, que visitava outros estados e países conhecendo as experiências de sucesso para replicar por aqui, murchou e se resumiu ao frágil papel de comentarista sobre a situação da educação e violência no estado. É pouco, muito pouco. É como se, de um dia para o outro, ACM Neto tivesse dispensado toda a sua equipe de comunicação, marketing, conselheiros, estrategistas e tivesse se trancado em uma bolha. Lamentável!
E com o passar do tempo, as coisas só pioram: derrota de candidatos aliados na última eleição municipal, perdas recentes e constantes de apoio político em várias regiões, críticas à sua postura isolada, retorno do PDT estadual à base governista e falta de projeto político e estratégia estão dissipando qualquer possibilidade de uma candidatura minimamente competitiva no próximo ano.
Não preciso nem mencionar que o maior erro da campanha de ACM Neto foi “abrir mão” de José Ronaldo como vice. E mesmo depois do trágico resultado de 2022, não se buscou corrigir o equívoco político – nem mesmo depois do resultado da eleição de Feira de Santana em 2024 – que seria buscar uma aproximação com o prefeito da segunda maior cidade da Bahia. Faltou humildade, faltou bom senso, faltou estratégia, faltou tudo.
O futuro de ACM Neto parece previsível e inevitável. Vai lhe restar, para escapar de forma digna desse imbróglio, apenas uma vaga na Câmara dos Deputados ou voltar a ser prefeito de Salvador, em 2028. Para o Senado, muito arriscado. Seja qual for sua escolha, dentre estas duas possibilidades, é fato que ele não precisaria nem fazer campanha, só anunciar que está no páreo. Vitória certa!
Eu diria, inclusive, que Salvador seja a única fatia do bolo (ou da pizza) que caberá, em um futuro muito próximo, à oposição na Bahia. E digo isso já considerando o voo inevitável de José Ronaldo em direção ao governador Jerônimo Rodrigues. O movimento para que isso se concretize já está acontecendo.
A ala do PT fará, e eu posso apostar no que vou dizer, o que ACM Neto não teve coragem, maestria para conduzir. Sim, é dessa forma que eu classifico a escolha errada do vice; ninguém me convence que deixaram de fora um líder político experiente e com uma longa e inquestionável história na administração pública para alocar a vice Ana Coelho, por questões financeiras. Ou foi confiança demais nos números (pesquisas) ou burrice mesmo!
Pois bem, posso apostar que a chapa majoritária em 2026 será composta por Jerônimo e José Ronaldo, e que nesse acordo o deputado federal Zé Neto (PT) teria, praticamente, o caminho livre para realizar em 2028 o seu maior sonho político, e talvez de vida: finalmente ser prefeito de Feira de Santana.
A possibilidade de uma chapa puro-sangue, como o senador Angelo Coronel (PSD) criticou, e como, certamente, pulsa no coração dos petistas, é pouquíssimo provável, e não seria de bom tom. Eu nem apostaria. Nos moldes atuais da política, com toda a complexidade dos arranjos, é utopia demais o PT querer indicar o governador, o vice-governador e dois senadores. Mas, depois dessa queda vertiginosa de ACM Neto na política baiana, de favorito em 2024 a um simples comentarista de rede social nos dias atuais, não é bom duvidar!
Na última semana, ele parece ter se dado conta de que não se faz política apenas gravando vídeos para a rede social, e retomou algumas viagens para o interior. Ele precisa, ao menos, reduzir todo o constrangimento e situação vexatória em que se permitiu entrar. Tarde, eu diria, mas melhor do que nada! A Bahia, realmente, podia mais, e esperava muito mais de você, Neto.
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Josevaldo Campos é jornalista e publicitário, editor-chefe do site Retratos e Fatos e já coordenou a área de comunicação de várias campanhas políticas, além de ter assessorado diversos políticos e prefeituras.