“Flores no Deserto”: Filme produzido em Tucano aborda vida de morador pioneiro no movimento LGBT+

Em um contexto excessivamente conservador da época, Flores era abertamente gay e usava roupas femininas. Mas, ao contrário do que se poderia esperar das pessoas da época, Flores era extremamente querido por todos.
Flores, que teve como nome de batismo Florisvaldo, é considerado pelos produtores “um pioneiro no movimento LGBT+ da cidade". Foto: Divulgação

Se nos dias atuais o preconceito com a comunidade LGBT+ é grande, o que dizer de alguém que ousou ser livre e assumir sua orientação sexual nos anos 80 e 90, em uma época e ambiente extremamente conservadores?

Esse “alguém”, no caso, era um tucanense chamado Flores, figura icônica e muito conhecida nos anos 80 e 90 na cidade de Tucano. Em um contexto excessivamente conservador da época, ele era abertamente gay e usava roupas femininas. Mas, ao contrário do que se poderia esperar das pessoas da época, Flores era extremamente querido por todos e comandava, inclusive, a cozinha de uma das casas de família mais importantes e tradicionais da cidade, à época.

O documentário traz depoimentos de pessoas que conviveram com Flores e também um panorama atual da comunidade LGBT+ na cidade através de entrevistas com homens gays e mulheres trans. Foto: Divulgação

E uma história dessas, vamos combinar, não poderia ter outro desfecho: um filme. Ou, para ser mais preciso, um média-metragem documental que está sendo gravado no município. Curiosa e belissimamente intitulada “Flores no Deserto”, a produção é dirigida pelo jovem cineasta tucanense Marcelo Filho e tem roteiro do também filho da terra, o escritor Astério Moreira. A proposta do média foi de Kaiara Gomes, mulher trans com um histórico de envolvimento com movimentos artísticos e sociais da cidade.

Flores, que teve como nome de batismo Florisvaldo, é considerado pelos produtores “um pioneiro no movimento LGBT+ da cidade”, daí a importância e relevância de se trazer à luz e eternizar uma história tão curiosa e necessária. Ele faleceu em 2002. “O fato é que, na Tucano dos anos 80 e 90, apesar da tentativa de lhe arrancarem o lenço do cabelo e enfiarem um terno e gravata por cima do bustiê, esta pessoa, que nasceu Florisvaldo, encontrou no apelido carinhoso uma maneira de ser o que era e pertencer a este chão”, afirma a produção.

A produção é dirigida pelo jovem cineasta tucanense Marcelo Filho e tem roteiro do também filho da terra, o escritor Astério Moreira. A proposta do média foi de Kaiara Gomes. Foto: Divulgação

Segundo diversas pessoas que tiveram o privilégio de uma convivência mais próxima, Flores tinha também um nome feminino pelo qual gostava de ser chamado. “Sim, Márcia foi o nome feminino que Flores adotou. Sempre que se arrumava com muitos colares, pulseiras e miçangas que minha mãe lhe dava, além do batom e maquiagem, ele calçava sua sandália e saía rua acima incorporando Márcia”, lembra o empresário Helcio Andrade, em cuja casa da família Flores trabalhou durante mais de uma década.

A arte educadora e estilista tucanense Sonia Bastos também o conheceu de perto e traz um olhar diferente sobre a vida dele em sociedade. “Minha infância foi perto do Flores. Antigamente, era muito mais difícil conviver quando se era ‘diferente’. Que bom que vocês estão dando espaço à memória Dela. Que incrível”, comenta, destacando, inclusive, o uso do pronome na forma feminina.

Segundo outros tucanenses que tiveram o privilégio da convivência, ele gostava, mesmo, era de ser chamado de Márcia. Foto: Divulgação

Além de narrar a vida do tucanense, o documentário, que foi aprovado no edital da Lei Paulo Gustavo, traz um panorama atual da comunidade LGBT+ na cidade através de entrevistas com homens gays e mulheres trans. Com filmagens concluídas no começo deste mês, “Flores do Deserto” tem previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2025. Simplesmente imperdível!

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