Prefeitura retira barracas da praça de Caldas do Jorro e causa revolta entre comerciantes

Prejudicados, donos de barracas acusam prefeitura de falta de diálogo e arbitrariedade na condução do processo. Prefeitura diz que licitação realizada já foi uma forma de comunicação e que todos já sabiam que isso iria acontecer.
No lugar das águas quentes, o clima esquentou entre prefeitura e comerciantes que perderam suas barracas, instrumento de trabalho.

Ao que tudo indica, a lua de mel entre o prefeito Ricardo Maia Filho (PSD), de Tucano, com a população está chegando ao fim, e mesmo para o segundo prefeito mais jovem do país, alguns métodos administrativos podem ser antigos e já bem conhecidos do povo.

Nesta terça-feira (09/11), a prefeitura arrancou, literalmente, o sonho e o ganha-pão de diversos donos de barracas que trabalhavam na Praça Ana Oliveira, em Caldas do Jorro, distrito e zona turística de Tucano, famoso pelas águas quentes.

Segundo alguns donos de barracas, eles receberam um aviso da prefeitura na sexta-feira (05/11) dando um prazo de 72 horas para a desocupação do local, e outros afirmam que nem chegaram a ser comunicados. O grande problema é que em apenas três dias você não reorganiza uma vida construída e alicerçada em décadas de trabalho árduo e dedicação diária. “Tenho uma barraca há 40 anos e fiquei sabendo pela boca dos outros, mas ninguém conversou comigo. Cheguei lá ontem e eles já estavam retirando, quebrando o piso da barraca. A maioria está indo pra rua. Eles não podiam fazer isso com a gente”, relata, inconformado, Manoel das Neves Santos ao Retratos e Fatos.

Valfredo (foto) mantinha barraca no local há 30 anos e afirma que não houve diálogo. “Eles só pensam neles”.

A prefeitura informa que realizou uma licitação pública este ano com o intuito de ofertar alternativas aos donos de barracas e comerciantes que possuíam “pontos inadequados”. Quem ganhasse, ocuparia os espaços que foram construídos pela gestão anterior nos arredores da praça. “Não foram somente 72 horas. Desde o lançamento da licitação, desde a construção dos estandes, dos quiosques, a população e todos aqueles que fazem esse tipo de comércio e que estavam de maneira inadequada já sabiam. Já era uma iniciativa que foi deflagrada lá na gestão anterior, então não foram apenas 72 horas, foi muito tempo. Todo mundo já sabia dessa iniciativa”, afirma ao site Thiago Nascimento, secretário de Turismo, Desenvolvimento Econômico e Cultura.

Mesmo com alvará de funcionamento expedido pela própria prefeitura até 31 de dezembro, as barracas foram retiradas da praça.

Muitos dos trabalhadores têm em mãos o alvará expedito pela própria prefeitura com autorização de funcionamento até 31 de dezembro, o que não foi levado em consideração. Morador como Valfredo Antônio já trabalhava no local com sua barraca há 34 anos.  “A esperança era que eles convidassem a gente (para conversar), mas não deu prazo nem escolha, quem perdeu, perdeu definitivamente. Eles só pensam neles. Vou tocar a vida pra frente”, disse ele, ainda meio desnorteado, à reportagem. Valfredo acrescentou que pretende entrar na justiça contra o município.

Vereador e morador de Caldas do Jorro defende a organização do espaço, mas condenou a forma “arbitrária” como o município conduziu a situação.

Morador de Caldas do Jorro, o vereador Dejair Pimentel (PSB) diz não ser contra a organização do espaço, mas condena a forma como tudo foi conduzido pela gestão municipal. “Nós sabíamos que isso um dia iria acontecer, mas eu achei uma atitude arbitrária. Não sentaram com ninguém para conversar, alguns barraqueiros pediram um diálogo, mas ninguém apareceu, só os fiscais dos tributos com uma carta de intimação para desocupar com 72 horas, como se fossem animais sendo escorraçados. Achei um absurdo do jeito que foi feito”, relata.

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