Há alguns meses, uma grande polêmica se formou em torno da instalação de um complexo eólico na região de Canudos, bem na rota e refúgio da arara azul de lear, ave em perigo crítico de extinção.
De um lado, a multinacional francesa Voltalia, do outro, ambientalistas, moradores e organizações que atuam na preservação da fauna e flora e questionam, por exemplo, a licença ambiental que foi dada pelo Inema, que seria frágil e insuficiente para garantir a preservação da biodiversidade local. A pressão nacional e internacional pela interrupção da obra é grande, o caso já foi parar até no Ministério Público, mas nada mudou. A Voltalia afirma que estudos encomendados pela empresa garantem que a presença das araras azuis na área de influência do parque é baixa.
Mais recentemente, organizações se mobilizaram e propuseram à Voltalia a realocação do complexo. Essa alternativa também é defendida pelo Projeto Jardins da Arara de Lear, voltado à preservação da espécie, e cuja sede fica localizada em Canudos. Para entender o porquê do assunto atrair a atenção de tanta gente, Retratos e Fatos conversou com Marlene Reis, integrante do Projeto.
A primeira razão que explica é a raridade da ave, o que está além da condição de ameaça de extinção. Os menos de dois mil indivíduos catalogados, todos vivem no sertão da Bahia, mais especificamente nas cidades de Canudos, Jeremoabo, Euclides da Cunha e…Desconhece-se, até então, a existência da arara azul de lear em qualquer outra parte do mundo, em qualquer época da história. Segundo Marlene, não se sabe porque, exatamente, a espécie escolheu a caatinga baiana para habitar.
“Levando em consideração que é uma espécie com um número de indivíduos muito baixo, com ameaça de caça, de tráfico, falta de alimento e outras ameaças, a empresa poderia, sim, ver outro local. Tem ventos na região que permitem fazer esse deslocamento”, defende Marlene.
Retratos e Fatos procurou a Voltalia para saber se a empresa considera a possibilidade de mudar o parque de lugar. Em resposta, ela apenas destacou as “ações de controle e preservação” que estão sendo realizadas no local e reafirmou que possui todas as licenças necessárias para a fase atual do empreendimento. Sobre a questão colocada pelo site, a empresa não se manifestou.
Enquanto o impasse permanece, quem defende as araras segue confiante. “Temos esperança de que as araras saiam vitoriosas. A gente não está questionando só porque a gente acha bonito, é porque a gente realmente vê um risco muito grande de extinção da espécie, o que, para a região, é uma perda muito grande”, explica Marlene.