Peu Paixão: A recompensa de quem não desiste – o que a Caatinga me ensinou sobre persistência

Se quer resultados diferentes, faça algo diferente. Saia da zona de conforto. O umbuzeiro carregado aparece depois da maior exaustão, quando todos os outros já voltaram.
Enquanto registrava imagens para o Instituto Arvoreser, compreendi que regenerar a Caatinga exigiria esta mesma persistência que vivíamos na caminhada. Foto: Divulgação

O sol já castigava quando iniciamos nossa jornada pela Caatinga. Doze quilômetros pela frente, mata fechada e um calor que parecia querer nos derrotar antes mesmo de começarmos. Estávamos ali a convite do Instituto Arvoreser, com a missão de captar imagens desse bioma único – parte de um lindo projeto de regeneração que, embora comece aqui, promete reverberar pelo mundo todo.

Guiados pelo grande guia Beto da Baixa do Enxú — referência de resiliência e superação na Caatinga — nos sentimos prontos para o desafio. Sua presença não era apenas orientação, mas inspiração viva. “O sertão ensina quem tem paciência pra aprender”, dizia ele, carregando nas costas décadas de sabedoria sobre cada espinho e pedra daquele caminho.

Logo nos primeiros quilômetros, a realidade nos atingiu: subida íngreme, terreno lamacento, corpo protestando. Respiração ofegante, suor escorrendo. Encontramos o primeiro umbuzeiro — nossa primeira esperança. Vazio. Sem um único fruto. O primeiro golpe.

Logo nos primeiros quilômetros, a realidade nos atingiu: subida íngreme, terreno lamacento, corpo protestando. Foto: Divulgação

“Vamos continuar”, comandou Beto com firmeza. E seguimos.

A vegetação ficava mais densa a cada passo. Espinhos rasgavam nossas pernas, a lama sugava nossas forças. Um segundo umbuzeiro apareceu no horizonte. Nos aproximamos, ansiosos. Também vazio. Mais um golpe.

Sol a pino, castigando sem misericórdia. Água nos cantis diminuindo rapidamente. Pulamos cercas, cruzamos propriedades, retornamos ao mato denso. Cada decisão nos afastava mais do conforto e da segurança.

Enquanto registrava imagens para o Instituto Arvoreser, compreendi que regenerar a Caatinga exigiria esta mesma persistência que vivíamos na caminhada. A natureza não se reconstrói da noite para o dia, assim como nenhuma transformação significativa acontece sem enfrentar resistência.

O verdadeiro sabor da conquista só é conhecido por quem teve coragem de não desistir no meio do caminho. ​​​​​​​​​​​​​​​​ Foto: Divulgação

Um terceiro umbuzeiro surgiu. A esperança renasceu, apenas para morrer rapidamente — nenhum fruto. O desânimo começou a pesar mais que nossas mochilas.

“Talvez devêssemos voltar”, alguém sugeriu, verbalizando o que muitos pensavam.

“Quem desiste não conhece o sabor da vitória”, respondeu Beto, nosso mestre nessa jornada. “O próximo pode ser o que buscamos”. Sua convicção nos empurrou adiante quando os pés já queriam parar.

O terreno ficou ainda mais traiçoeiro. Rochas escorregadias, lama profunda, vegetação que parecia lutar contra nossa presença. Encontramos o quarto umbuzeiro após uma subida exaustiva. Também vazio. O silêncio entre nós já dizia tudo.

Se quer resultados diferentes, faça algo diferente. Saia da zona de conforto. Foto: Divulgação

Beto, percebendo nossa hesitação, nos olhou firme: “É quando o corpo grita para parar que a alma precisa continuar. A disciplina que dói hoje é o sucesso que sorri amanhã”.

Água quase acabando. Músculos implorando por descanso. Sol implacável. Mas seguimos.

E então aconteceu.

No que parecia ser o último suspiro da nossa resistência, quando o fracasso parecia certo e a desistência justificável, ele surgiu: um umbuzeiro gloriosamente carregado. Frutos suculentos, doces, frescos. A recompensa dos persistentes.

Nunca algo tão simples pareceu tão extraordinário. O sabor intensificado pela jornada que nos trouxe até ali.

Beto sorriu, como quem conhecia o roteiro antes mesmo de começarmos. “Não é o umbuzeiro que importa, é quem vocês se tornaram durante a caminhada”.

A vida não entrega seus melhores frutos para quem desiste nos primeiros obstáculos. Os primeiros umbuzeiros sempre estarão vazios para testar sua determinação.

Nunca algo tão simples pareceu tão extraordinário. Foto: Divulgação

Este é exatamente o princípio que move o Instituto Arvoreser: regenerar a Caatinga exige esta mesma persistência inabalável. Um trabalho de transformação que não acontece instantaneamente, mas que, como nossa jornada, produzirá frutos incomparáveis.

Se quer resultados diferentes, faça algo diferente. Saia da zona de conforto. O umbuzeiro carregado aparece depois da maior exaustão, quando todos os outros já voltaram.

O verdadeiro sabor da conquista só é conhecido por quem teve coragem de não desistir no meio do caminho. ​​​​​​​​​​​​​​​​

Agradeço ao Marcelo, Pedro, Mori, Andressa, Vanderson e Beto por essa experiência incrível.

Peu Paixão é empresário (P3-X), amante de gastronomia e viagens, não necessariamente nessa ordem, e colunista fixo de Retratos e Fatos.

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