Eram 07h50 quando uma van com a equipe e uma ambulância do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) deixaram a sede da secretaria municipal de Saúde. O povoado Gabrielas fica a 75 quilômetros da sede de Euclides da Cunha. De carro são duas horas, em média, para chegar à comunidade. Essa distância torna a oferta dos serviços públicos um grande desafio. Mas o Programa Chegou Saúde conseguiu chegar lá!
E em plena sexta-feira, o bar principal do povoado mudou a sua finalidade. Em poucos instantes, moradores e equipe se misturaram. Aparelhos, caixas, macas, receituários, fichas…Tudo ia saindo dos veículos e sendo organizado no espaço. Algum tempo depois, já era possível ouvir nomes e números sendo anunciados. Os atendimentos haviam começado. Aquela era mais uma comunidade prestes a viver um dia completamente diferente.
Desde que foi iniciado, em fevereiro, o programa já contemplou oito comunidades. Além de consultas com médicos, o mutirão engloba atualização do cartão de vacina, avaliação de tracoma, exame de eletrocardiograma, práticas de primeiros socorros e entrega de medicamentos, além de visitas domiciliares. “O programa surpreendeu até nós, profissionais de saúde, pela magnitude e a proporção que ele tomou. A gente tinha força de vontade para fazer o programa da melhor maneira possível, só que a gente não imaginava que ia dar tão certo, que ele ia ser tão efetivo, tão pontual. E realmente, para nós enquanto profissionais de saúde, é uma alegria muito grande você ver isso acontecendo, você fazer parte dessa história, dessa equipe”, revela o secretário municipal de Saúde de Euclides da Cunha, Anderson França.
Anderson lembra, também, que depois que o programa começou, algumas pessoas já foram diagnosticadas com tracoma (doença inflamatória dos olhos) e tratadas. Isso também tem ocorrido com a realização do eletrocardiograma, que ajudou a identificar moradores com cardiopatias e que foram encaminhados para atendimento especializado.
Dependendo da necessidade e especificidade da comunidade, o programa vai se modificando a cada edição, entrando mais profissionais. “Hoje mesmo nós trouxemos o profissional responsável pela regulação municipal, justamente para saber se na comunidade existe algum caso de alguma regulação que esteja demorando, ou se essa requisição não chegou até a secretaria por algum motivo, ou se essa pessoa está com a requisição na mão e não conseguiu ir até o PSF para marcar”, explica o secretário.
Marilene dos Santos mora no local e aproveitou a oportunidade para mostrar um ultrassom e fazer uma consulta médica, além de tomar duas vacinas que estavam em atraso. Sempre que precisa de atendimento, ela precisa se deslocar para o povoado de Muriti, também distante, ou pagar R$260 em um carro até a sede do município. Se tiver sorte e mais três passageiros, desembolsa R$60. “Foi muito importante essa visita médica aqui hoje na nossa comunidade, porque como vocês veem, é bem distante e a gente necessitava muito. A nossa luta aqui não é fácil. A gente quer que as autoridades políticas olhem mais por nós, vejam as necessidades que a gente precisa. A gente se sente um pouco esquecido aqui. Eu agradeço, foi muito importante essa visita com os médicos”, revela.
O programa vai continuar e receber novos investimentos no segundo semestre, adianta o secretário. “O Chegou Saúde está só começando. A gente pretende ampliar e investir ainda mais no programa, justamente para estar adentrando todas as comunidades que necessitem, efetivamente, de ações como essa”.
Os moradores têm abraçado a iniciativa. Além de marcarem presença, sem receios e preconceitos, alguns até se envolvem na montagem da estrutura. Ou seja, além de promover saúde àqueles que mais precisam e que estão bem distantes das unidades de saúde, o programa tem contribuído para despertar o sentimento de comprometimento e pertencimento.
Onde há euclidense precisando de atendimento, o programa pretende chegar até lá. E essas idas e vindas têm sido transformadoras também para os profissionais envolvidos. A fala de Antonio Lucas, enfermeiro do SAMU, por exemplo, evidencia um sentimento de felicidade individual e de realização coletiva. “Eu estou muito feliz, realizado enquanto profissional de saúde, enfermeiro do município. Vir em uma localidade tão distante, que realmente necessita desse atendimento, a gente poder estar vendo o olhar destas pessoas, a alegria delas nos recebendo aqui para esse atendimento médico. A gente está muito feliz”.
Ele, juntamente com outros profissionais, tem ensinado práticas de primeiros socorros para crianças, jovens e adultos. Para alguns, uma ação simples e até insignificante, mas que, na verdade, tem uma grande importância e pode salvar muitas vidas. São orientações sobre o que fazer em caso de engasgo, desmaio e parada cardiorrespiratória.
Na volta, até para mim, jornalista, cuja missão naquele dia era apenas registrar as ações do programa, impossível não ser impactado por um sentimento que mistura gratidão, dever cumprido, felicidade e saudade. A gente volta porque tem que voltar, mas o coração, sem dúvidas, permanece lá na comunidade e com aquelas pessoas gentis por um bom tempo.
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