A Enfermagem é uma das profissões mais antigas no Brasil, você já deve ter encontrado por aí uma Santa Casa de Misericórdia, e acredite ou não, elas existem desde o período colonial. A prestação de serviços de saúde era desempenhada por escravos, e grupos de pessoas que se dedicavam de maneira ministerial a esses cuidados, eram em sua maioria freiras e pessoas pertencentes a comunidade religiosa.
O fato é que, com esse histórico de surgimento em meio a abnegação, a profissão cresceu selada com o emblema “enfermagem por amor”. E onde está o erro nisso? Hoje a prestação de serviço se dá por profissionais com capacitação especializada, regida por um código de ética rigoroso, e um conselho pago anualmente; somos no Brasil em média 1.480.643 atuantes da área.
Apesar da maioria de nós amar de fato a profissão que escolheu, ela não é realizada por amor, é realizada por conhecimento científico e tecnológico. Antes a boa vontade era tudo que alguém precisava para atender algumas demandas de saúde, hoje uma simples injeção que você toma numa unidade básica de saúde exige conhecimentos de anatomia, farmacologia, física e matemática.
Além disso, nunca foi tão notória a participação trabalhista da enfermagem do que nesse período de pandemia. Perdemos milhares de colegas, a maioria de nós se sente esgotado emocionalmente, e fisicamente. Talvez você ache desconfortável o uso de máscaras por alguns instantes, agora adeque isso a touca, roupas e sapatos fechados, um avental impermeável, e um escudo facial por 24 horas.
A desvalorização é uma injustiça que muitos profissionais conhecem, talvez você entenda a sensação por já ter se sentindo frustrado e cansado ao mesmo tempo. Profissões muito mais novas e recentes tem um piso salarial na qual apoiar sua categoria, enquanto isso concurso são divulgados oferecendo pouco mais de um salário a um enfermeiro ou enfermeira que tem uma graduação de 5 anos (ou mais). A maioria das prefeituras (no interior principalmente) oferecem a um técnico um único salário, e o mínimo de insalubridade; o que no final dos descontos não se junta o montante de 1.000 reais (me incluo nesses números), isso após 2 anos de estudos e por 40 horas semanais.
Seria inútil falar nesse assunto se eu fosse uma exceção, mas as repetições no nosso país, e principalmente no nosso estado me tornam uma regra desmotivadora. Esse é um desabafo honesto e transparente de uma profissional que aguarda com esperança a aprovação do piso salarial pelo PL 2564/2020.
E quero lhe lembrar que todos nós precisamos e precisaremos da atuação da enfermagem algum dia na vida, não importa sua classe social, você nos encontrará nos corredores dos SUS, e nas clínicas particulares, no início e no fim da vida, a qualquer hora. Você sabe bem onde procurar ajuda se precisar, e estaremos lá, talvez nos encontre exaustos e exaustas, mas você não vai nem perceber. O que eu espero é que um dia você nos encontre com a dignidade de uma classe reconhecida com a mesma importância dos cuidados que oferecemos.
Sandy Ribeiro é, técnica em enfermagem há 9 anos e estudante de Biologia.
—
O conteúdo veiculado na sessão Maria Bonita – Espaço Colaborativo é de inteira responsabilidade de seu autor, não representando, necessariamente, o ponto de vista de Retratos e Fatos.